Ação pela Paz - 13ª Feira do Artesão Livre traz geração de renda e arte para reeducandos do MS

Lucro revertido

13ª Feira do Artesão Livre traz geração de renda e arte para reeducandos do MS

O evento, realizado em maio, teve todo o lucro revertido aos próprios artesãos
Foto: divulgação
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Por Marcos Ferreira | Redação

A relação de qualquer pessoa com o trabalho é, indiscutivelmente, uma forma eficaz de criar um cenário de socialização. A arte, seja como meio de emprego ou em caráter de atividade cultural, também possui uma grande força de integração comunitária. Esses dois elementos, quando juntos, ganham um potencial transformador.

É esse o efeito obtivo pela 13ª Feira do Artesão Livre, que aconteceu na primeira semana de maio, antecedendo o Dia das Mães. O projeto foi realizado pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul, em parceria com a AGEPEN (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) e contou com o apoio do Conselho da Comunidade de Campo Grande e do Instituto Ação Pela Paz.

Com mais de 340 produtos, aproximadamente 100 itens a mais que na edição anterior, o evento ocorreu de forma totalmente online, por conta das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19.

O meio de contato com os consumidores foi totalmente feito via aplicativo de mensagens e, graças a uma rede de atendimento e suporte especialmente montada para a feira, os produtos foram listados em um catálogo com foto, descrição e valores dos artigos. O pagamento acontecia através de boletos e um time de voluntários cuidou da entrega aos compradores, com frete grátis aos moradores da capital Campo Grande.

Essa é a segunda vez que a feira ocorre no formato virtual e neste ano contou com peças confeccionadas por 74 artesãos, todos do regime fechado, de seis unidades prisionais da capital sul mato-grossense.

Alguns dos reeducandos que participaram da fabricação dos objetos já possuíam conhecimento na prática do artesanato e dividiram suas experiências com outros integrantes que se encantaram com a proposta, abrindo a possibilidade de uma nova opção na geração de emprego e renda.

Dra. Jiskia Sandri Trentin, promotora de justiça do estado e idealizadora do projeto, lembra que o uso de materiais recicláveis ganhou um papel importante nas edições mais recentes da feira, algo que não era presente quando o projeto teve início em 2014.

Foto: divulgação
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“Tem um lado ambiental muito interessante, graças ao reaproveitamento dessa matéria-prima. Isso dá toda uma característica especial para aquele produto que está sendo desenvolvido pela unidade prisional”, comenta Dra. Jiskia.

Produtos feitos com retalhos de MDF, sobras de tecidos, pneus, cadeiras, pedaços de madeira, sacos plásticos, peças de brinquedos, restantes de ferragens, pallets, entre outros, compõem o acervo da feira.

O Ação Pela paz contribui com essa dinâmica desde o último ano. O instituto enviou máquinas de costura, aparelhos de bordar, pirógrafos, furadeiras, além de materiais de consumo como barbantes, telas, tintas, pinceis, linhas, caixas de MDF, entre outros utensílios.

Para Dra. Jiskia, essa doação é imprescindível para o tipo de artesanato aplicado na feira. “Assim nós conseguimos desenvolver ainda mais técnicas com eles, ampliamos a quantidade de internos que trabalham com essa atividade e produzimos um número maior peças, como conseguimos agora”, reforça a promotora.

Daniella Reina, uma das responsáveis pelo projeto dentro Instituto Ação Pela Paz, conta que “compreender o valor do trabalho na recuperação da pessoa privada de liberdade é fundamental para criar estratégias frente a este cenário”.

Para Daniella, que acompanhou de perto as necessidades de maquinário para o andamento da ação, “envolver a sociedade civil neste processo de recuperação do reeducando é fundamental para tornar esse seu reingresso à sociedade de maneira mais empática”.

O trabalho realizado pelos reeducandos se torna ainda fonte de renda, uma das características das edições da feira. O lucro obtido com a comercialização dos produtos é 100% revertido ao artesão. O dinheiro é depositado em uma conta judicial e pode ser utilizado no próprio sustento da pessoa privada de liberdade ou repassado aos seus familiares.

Elaine Cecci, Chefe de Divisão de Trabalho Prisional da AGEPEN, destaca que o evento “significa não somente uma exposição de artesanatos, que já é um grande feito, mas a possibilidade de estabelecer um vínculo social e divulgar o potencial de mão de obra que existe nas unidades prisionais nas mais diversas áreas de atuação”.

A 13ª Feira do Artesão Livre, na visão de Elaine, possui um caráter de (re)integração social importante para os reeduncandos. “O trabalho prisional promove o desencarceramento, a pacificação e a dignidade humana”, conclui.

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