Ação pela Paz - As coisas que realmente importam

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As coisas que realmente importam

Por Maicon Alves Leite
Juberto e Maicon - Foto: divulgação / arquivo pessoal
Juberto e Maicon - Foto: divulgação / arquivo pessoal

As coisas que realmente importam não são necessariamente àquelas que as pessoas chamariam de "importantes". A liberdade, por exemplo, é a coisa mais importante para um indivíduo. Pois, imagine que um ente querido não esteja bem de saúde e precise de você, enquanto, você está encarcerado? Seria trágico, se não fosse desesperador, doloroso e se o remorso não perturbasse tua consciência! Contudo, até mesmo isso é importante, pois são estas circunstâncias que nos amadurecem espiritualmente. Que nos faz refletir nos ditames das nossas próprias ações. 

Ao longo desses 34 anos de vida que tenho, passei por muitas situações, algumas boas, outras não! Ora difíceis, ora fáceis, mas sempre com a certeza que era o próprio protagonista da minha história. Sabia que haveria um enredo criado pelo mundo, mas que eu poderia me encaixar dentro dele.

Acertei em muitas escolhas, errei em outras. Não deixei que os tempos difíceis de menino me abalassem. Perdi meu saudoso pai para o álcool aos 10 anos de idade. Tive que assistir a luta penosa da minha mãe para criar três filhos pequenos sozinha em um tempo em que não havia tanta visibilidade social por parte do governo. Fome não passei, graças a mãe guerreira que tenho, mas tivemos muitas necessidades. Tive o desafio de ser o único homem em uma casa composta por três mulheres. Graças a Deus, mulheres de muita honra e que tenho muito orgulho. E fui pai aos 20 anos de idade. 

Foto: divulgação
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Deus me honrou! Me deu conhecimento, me deu oportunidades e, de repente, me tornei um bancário bem renumerado. Passei entre os primeiros colocados no curso de ciências econômicas por uma universidade federal. Tive a maravilhosa oportunidade de escrever uma história de sucesso. Vi tudo ao meu redor se transformar positivamente.

Quando tudo estava favorável comecei a desviar o foco e deixei as distrações alheias; baladas, mulheres, bebedeira e as falsas amizades corromperem o meu propósito de vida. E, como em um passe de mágica, eu estava no fundo do poço!

Costumo dizer que fui do sucesso ao lixo. E, quando cai em si, já havia dissipado tudo que tinha ganhado. Estava em um relacionamento fictício com a mãe da minha filha, que nunca me viu como homem. Sempre me faltando com respeito e fazendo pouco de mim. As dívidas e o orgulho desviando meu caráter. A sensação de derrota sufocando a minha fé. Mas nada que não fosse pior do que o encarceramento.

De gerente de banco em um lugar de destaque, de privilégio e vida próspera, agora era o réu. O inimigo da sociedade, o hostilizado, o homem sem dignidade alguma. Um detento! Vi as sinceras lágrimas da minha mãe caírem por terra, molhando a poeira do chão. A mesma poeira que naquele momento se equiparou com a minha vida.  Pensei, “como não percebi que havia mais emoção nos meus colegas detentos do que propriamente razão?”. A maioria estava ali porque gostavam de usar droga e viver insanamente um mundo fictício. Certa noite acordei com a minha filha aos prantos pedindo pelo meu colo. Mendigando amor. Esse foi o pior pesadelo que já tive na vida, pois vivo por ela. Começava ali o meu entendimento para o que, verdadeiramente, importa.

Logo percebi que deixei a minha vida inteira, o meu emocional ditar o caminho, quando na verdade, devemos sempre agir com a razão. Apesar de hostilizar quem usava drogas, pois sempre preferi estar lúcido, eu criei uma falsa ilusão de que aquela atividade ilícita poderia mudar minha situação financeira. Descobri da pior forma possível, um mundo perene de mentiras e autos enganos. Sem honra, sem ética, sem compromisso com as próprias palavras. Um mundo imoral.

Encerramento de turma do projeto "Supera - Escuta Ativa", em Jaú, SP - Foto: divulgação
Encerramento de turma do projeto "Supera - Escuta Ativa", em Jaú, SP - Foto: divulgação

Conheci o Juberto quando eu estava cumprindo pena no Centro de Ressocialização Masculino de Jaú, durante o projeto “Supera – Escuta Ativa”. Que acontece na unidade prisional, em parceria com a Faculdade Integradas de Jahu e o Instituto Ação Pela Paz. Juberto começa a se aproximar de nós enquanto estamos privados de liberdade e, quanto sairmos, ele nos encaminha para o projeto “Egresso Apoiando Egresso”, nos ajudando quando ganhamos liberdade.

Sempre atencioso, ele passava em casa para conversar comigo e me incentivou a estudar. Conquistei uma bolsa integral no curso de Mecânico Diesel, no Senai. Confiante vi um concurso em outro estado, para trabalhar na área administrativa do Senai para duas cidades, prestei ambas as provas e passei em primeiro lugar. Hoje eu não moro mais em Jaú e estou trabalhando na escola que me formou.

Contudo, apesar de todo o sofrimento, de todo sentimento de fracasso e de toda a vergonha que senti de mim mesmo, eu dei graças ao Senhor Deus, pois tudo foi muito importante para o meu amadurecimento espiritual e a minha relação com o todo Poderoso. Orei muito e me apeguei com muita fé nas questões celestiais. Descobri a essência de Deus, do amor da família e dos verdadeiros amigos em mim.

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