Olhar Mais de Perto
Distante do estigma
Por Natália Larissa de Santana Souza
Meu nome é Natália Larissa de Santana Souza, tenho 28 anos e não tenho filhos. Venho de uma família humilde, onde aprendi desde cedo o valor do esforço e da resiliência. Meus pais sempre fizeram o possível para nos proporcionar uma vida digna, mesmo com recursos limitados. Tenho três irmãos. Um deles está acamado devido às consequências do uso de drogas — uma realidade que me fez refletir profundamente sobre as escolhas que definem o rumo de nossas vidas.
Meu pai é funcionário público, e minha mãe, uma mulher de coração gigante, se dedica integralmente a cuidar do meu irmão e de um primo, que tem deficiência mental. Minha irmã trabalha em uma empresa de logística, e meu irmão mais velho, com muito esforço, abriu sua própria loja de roupas e acessórios.
Infelizmente, minhas escolhas erradas me levaram ao sistema prisional. Olhando para trás, percebo que, se tivesse caminhado ao lado de outras pessoas, talvez minha trajetória fosse diferente. Mas acredito que, às vezes, é preciso "quebrar a cara" para aprender. A dor ensina o que o amor muitas vezes não consegue. E foi a dor que me despertou para a necessidade de mudar.
Passei quatro anos e oito meses em privação de liberdade. Um período difícil, mas também transformador. No dia 29 de outubro, completei três anos de liberdade. Essa data tem um significado especial, pois simboliza não apenas o fim de uma pena, mas o início de uma nova chance para mim.
Sempre fui uma pessoa esforçada, comunicativa e sonhadora. Todos os dias acordo com o desejo de ser melhor do que fui ontem. Me considero uma mulher de garra e força, porque, apesar de todas as dificuldades, continuo firme, reconstruindo minha história.
Atualmente, estou no segundo semestre de Pedagogia na UNISA, um curso que me preenche de esperança e me aproxima do futuro que desejo. Antes de ser presa, tive a chance de trabalhar como estagiária na prefeitura de Cabreúva, por meio do CIEE, onde atuei na Secretaria de Ação Municipal como auxiliar administrativa.
Quando estava prestes a sair do sistema, minha ansiedade era imensa. Achei que retomar minha vida seria mais simples, afinal, eu havia cumprido quase toda a pena. Mas a realidade foi um choque: muitas portas se fecharam quando procurei emprego. Em alguns lugares, consegui passar pelo processo seletivo, mas, ao entregar os documentos, era dispensada. Foi um momento de frustração, mas também de decisão.
Eu sabia que não podia desistir. Resolvi terminar o ensino médio, participei da minha formatura — um dia emocionante — e logo me matriculei na faculdade. Essa escolha mudou minha vida.
Nesse meio tempo, surgiu a oportunidade de participar do projeto “Mulheres na Cor”. Foi algo que nunca imaginei, mas que abriu uma porta entre tantas que estavam fechadas. Esse projeto me trouxe aprendizado e renovou minha esperança.
Hoje, posso dizer com orgulho que estou cursando Pedagogia, uma área que me encanta e me motiva a seguir em frente. Sei que, ao conquistar meu diploma, não será apenas um papel; será a concretização de uma jornada de luta, superação e renascimento. Cada passo me aproxima do reconhecimento e da vida que sei que mereço.
Mulheres na Cor
O projeto "Mulheres na Cor" surgiu da necessidade de renovar o cenário das mulheres no mercado de trabalho. Em parceria com organizações e grandes marcas apoiadoras, mulheres em situação de vulnerabilidade ganham a chance de aprenderem uma nova profissão e por consequência terem mais renda e independência financeira para renovarem suas vidas.
A segunda edição em São Paulo foca na capacitação de egressas do sistema prisional para atuarem na repintura automotiva. Essa iniciativa, liderada pela AkzoNobel em parceria com a Porto, Bela Tintas, Norton Abrasivos, Bosch Brasil e o Instituto Ação Pela Paz, com o apoio fundamental do Recomeçar na seleção das participantes, e do SENAI Ipiranga na qualificação técnica, oferecendo às participantes uma nova chance pessoal e profissional com qualificação e apoio completo.
Saiba detalhes dessa edição aqui.