Olhar Mais de Perto
É preciso compreender as Ilhas de cada um
Por Daniella Reina
“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”, José Saramago
Na época de escola, sempre me imaginei como executiva de negócios, empreendedora, tentava participar de qualquer curso ou experiência que me deixasse mais próxima do que queria. Mas, durante a faculdade de psicologia, ao pisar em uma comunidade, para a realização de um estágio social, algo mudou em mim! Naquele momento fiquei apenas observando em silêncio toda aquela energia que pulsava nas crianças e voluntários aflitos sem saber muito como lidar com tantas demandas que emergiam naquele lugar. Essa foi a virada de chave para o meu futuro profissional, e claro, como pessoa.
Desde então, ficou claro que não teremos sucesso ao criar algo para alguém se não entendermos suas personalidades, suas histórias e principalmente suas necessidades universais, aquelas comuns a todos e que nos conecta com o outro e nos mostra o que há de mais humano em nós. Daí para frente, mudou-se rotas, criei ações junto com o público-alvo, instalou-se uma ONG naquele bairro que até hoje atende famílias em vulnerabilidade social.
Em 2017 após passar por um processo seletivo, iniciei minha história no Ação Pela Paz. Era preciso novamente sair de mim se eu quisesse entender como poderia ajudar pessoas a se desenvolverem e reescreverem suas histórias. Ao visitar pela primeira vez o interior de uma unidade prisional, me silenciei e, com a escuta e olhar atentos, notei a importância de me conectar com o que há de mais humano em cada um. Ali estavam não só os reeducandos, mas também, os servidores, pessoas fundamentais para que qualquer ação desse certo naquele local.
Desde então, “sair da ilha para ver a ilha’ se fez necessário. Foi preciso entender o ser humano como um todo e isso nos permite pensar em possibilidades de enfrentamento, mas nada faz sentido sem a participação dos profissionais envolvidos nesse ecossistema. O trabalho interdisciplinar é a chave que nos permite criar, testar, corrigir e desenvolver ações para que sejam cada vez mais assertivas na redução da reincidência criminal.
Sobre a tão falada empatia, apesar de ela estar presente em todas os parágrafos desse texto, deixei para falar dela de forma verbalizada só agora no final, isso para que possamos sair com um questionamento interno.
Conhecemos muito a frase “empatia é não fazer ao outro o que não queremos que fizessem com a gente”, porém, encerro com um novo olhar para essa frase, de acordo com o filósofo Roman Krznaric, nos diz que “empatia é não fazer com o outro o que ele não quer que seja feito com ele”. Essa diferença nos obriga a dialogar com o próximo, a sairmos de nós, a trazê-lo para a construção de soluções e, assim, criarmos ações cada vez mais próximas de um país mais seguro e receptivo a todos.