Projeto em ampliação

"Educação Para a Paz", uma experiência de autoconhecimento para pessoas privadas de liberdade

Curso utiliza metodologia internacional para gerar reflexão pessoal aos participantes
Foto: divulgação
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Por Marcos Ferreira | Redação

Reeducandos de diversas unidades prisionais estão tendo uma nova experiência de se reconectar com suas próprias histórias. Desde que o “Educação Para a Paz” adentrou às unidades prisionais em dezembro de 2020, mais 1.300 pessoas privadas de liberdade passaram pela formação que é composta por 10 workshops multimídia que trazem temas projetados para explorar os recursos internos de cada participante.

O conteúdo aborda apreciação, força interior, autoconhecimento, clareza, entendimento, dignidade, escolha, esperança e contentamento. Um misto de tópicos que proporcionam uma caminhada íntima aos passos dados ao longo da vida.

“Nesses tempos de isolamento social, não imaginava que eu fosse encontrar os reeducandos tão tristes. Por isso montamos um programa acolhedor e inclusivo para eles sentirem que, como seres humanos, podem ter esperança neles mesmos”, diz Ivete Belfort, proponente e coordenadora do projeto que é apoiado pelo Instituto Ação Pela Paz, ao lado da FUNAP (Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel), desde sua implementação.

Presente em 11 unidades prisionais de São Paulo, o “Educação Para a Paz” deve dobrar sua abrangência ainda neste semestre. O projeto já está desenvolvendo a sexta turma em boa parte dos locais pela qual passa e há uma versão ao vivo, via videochamada, que ocorre na Penitenciária Feminina da Capital Paulista.

Toda a metodologia foi desenvolvida pela The Prem Rawat Foundation (TPRF), uma entidade internacional sem fins lucrativos que desde 2001 busca atender as necessidades básicas do ser humano, entre elas a paz. “É um programa que não é religioso, tampouco partidário. Ele tem grande participação espontânea, pois é um trabalho voltado para o reflexivo”, conta Ivete.

A coordenadora lembra que uma das vantagens de gerir o projeto no formato telepresencial é possibilitar a vinculação de conteúdo diário aos alunos. E para o curso, formado por 10 encontros, a própria Ivete promove a formação dos reeducandos que fazem a tarefa de multiplicadores responsáveis por conduzirem as etapas junto aos colegas em cárcere.

A cada encontro, o participante coloca suas percepções em um caderno pessoal e realiza uma avaliação ao final das atividades. Esse material é analisado por um dos 144 voluntários atuantes no projeto, que tem a tarefa de registrar o impacto das atividades na percepção dos envolvidos.

De acordo com os dados levantados em junho deste ano, 75% dos que integraram as turmas reconhecem melhoria no convívio interno, 92% perceberam mudanças positivas e satisfação com o que foi aplicado no curso e todos demonstraram compreender o conteúdo abordado.

“Vivemos dois lados na nossa trajetória, 50% ruim e 50% bom dentro de nós e eles lutam entre si, ambos querem dominar. Ganha aquele que alimentamos mais, por isso é importante aproveitar todas as atividades aqui”, diz um dos beneficiários.

Quem está diretamente ligado ao projeto tem a oportunidade de perceber como ele se reflete na mudança de consciência e superação. “Recentemente uma menina virou para mim e falou ‘olha, desde que estou presa – e já faz muito tempo –, eu sempre culpei os guardas por isso. Agora, pela primeira vez, eu estou aceitando que a culpada por eu estar aqui sou eu mesma’”, conclui Ivete.

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