50 anos

Metodologia da APAC como política pública foi um dos temas de congresso em MG

Processos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados inspiraram a criação do Ação Pela Paz; instituto marcou presença no evento
Foto: divulgação FBAC
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Por Marcos Ferreira | Redação
Com informações da FBAC

Entre os dias 22 e 25 de junho, aconteceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, o 9° Congresso das APACs. O evento marcou as comemorações dos 50 anos de existência da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, fundada pelo advogado e jornalista Mário Ottoboni na década de 1970.

Organizado pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), fundação gestora da APAC, a ação contou com a presença de várias autoridades como o desembargador José Arthur Filho, recentemente eleito presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 

O britânico Andy Corley, presidente da Prison Fellowship International, organização mundialmente reconhecida por sua atuação no campo da justiça criminal, e Solange Rosalem Senese, diretora executiva do Instituto Ação Pela Paz, estiveram no congresso.

O encontro reuniu membros da APAC, entusiastas e convidados de múltiplos setores da comunidade. Parte da programação contou com debates, conferências, oficinas e visitas guiadas às nove unidades da associação instaladas na região. Entre os temas abordados, a metodologia da instituição – que visa proporcionar à pessoa privada de liberdade as condições para uma mudança de vida – foi destaque.

A associação é regida por 12 elementos: a participação da comunidade; recuperando ajudando recuperando; trabalho; espiritualidade; assistência jurídica; assistência à saúde; valorização humana; família; o voluntário e o curso para sua formação; conectividade com o Centro de Reintegração Social (CRS); mérito e; participação na Jornada de Libertação com Cristo compõem a lista apaqueana.

O método APAC como política de segurança pública encabeçou uma mesa com especialistas de diversas áreas. A importância da participação governamental na estruturação, implementação e ampliação do formato pelos estados foi ponto focal nos diálogos. 

“Não é apenas ideologia, mas sim política pública com eficiência comprovada”, disse Dr. Murilo Andrade de Oliveira, Secretário de Estado de Administração Penitenciária do Maranhão.

Foto: divulgação
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Metodologia que inspira

Promotora de Justiça do Ministério Público de Rondônia, Dra. Eiko Danieli Vieira Araki, lembrou a importância do trabalho conjunto entre as instituições governamentais e a sociedade civil para a implementação e ampliação dessas associações.

Sua visão foi compartilhada com a do Procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Dr. Gilmar Bortolotto, que ressaltou o diferencial de uma iniciativa que tem origem na sociedade civil, e que sua lógica não pode ser vertical.

O formato, que surge da sociedade, é o mesmo embrião do Ação Pela Paz, criado em 2015. “Ninguém é irrecuperável”, como dizia Mário Ottoboni em uma frase que poderia facilmente ser slogan da ONG paulista.

“O Instituto Ação Pela Paz já participou de outras edições do congresso e percebemos o quanto as APACs vêm se constituindo como alternativa para um cumprimento de pena digno e com resultados efetivos no tocante à redução da reincidência criminal”, disse a diretora da organização social, Solange Senese.

Para o Desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, Ruy Muggiati, o trabalho da APAC se apresenta como uma oportunidade de superação de desafios que parecem ser insuperáveis. Segundo o magistrado, o alto nível de reincidência do sistema prisional (atualmente entre 80% e 85%), mostram a necessidade de se pensar em novas formas de atuação. 

A diminuição desses números é um dos fatores principais no trabalho do Ação Pela Paz. Entre os anos de 2015 e 2021, o instituto obteve bons números ao apostar na recuperação de pessoas em cumprimento de suas penas e as que deixam o sistema prisional. De acordo com a última aferição realizada, 89% dos beneficiados por projetos apoiados pela ONG não retornaram ao crime.

Solange, que vem acompanhando as iniciativas das APACs ao longo dos anos e as vê como inspiração para o trabalho que ajuda a conduzir, acredita que o diferencial desse congresso foi a presença efetiva do Depen (Departamento Penitenciário Nacional). O órgão foi representado pela ouvidora, Dra. Cíntia Rangel Assumpção, além dos juízes de várias comarcas do país.

“É o verdadeiro reconhecimento como política pública, principalmente porque o Depen investe na construção e aparelhamento de seis centros de ressocialização APAC com o projeto “Ressocializa”, que conta com nosso apoio”, frisa a diretora.

Tatiana Faria e Valdeci Ferreira - Foto: divulgação FBAC
Tatiana Faria e Valdeci Ferreira - Foto: divulgação FBAC

Troca de cargos

O 9° Congresso ainda marcou a mudança no comando da FBAC. Valdeci Ferreira deixa de diretoria geral. O cargo fica agora nas mãos de Tatiana Faria, que está há mais de 20 anos na associação.

Valdeci passará a gerir o CIEMA (Centro Internacional de Estudos da Metodologia APAC), que tem como objetivo principal apoiar as unidades existentes e fomentar a metodologia pelo mundo.

Na visão de Tatiana, para se tornar uma ação do Estado é fundamental que cada unidade da APAC seja referência para oferecer os resultados que a associação se propõe. Em sua visão, essa excelência dever ser completada por meio de parcerias estratégicas.

“Não é possível se estabelecer uma política pública de forma permanente, continuada, se não há apoio institucional sólido com grande credibilidade na sociedade e parcerias frutíferas. Nesse sentido a APAC conseguiu avançar, pois tivemos o envolvimento e compromisso de vários órgãos da administração pública em todos os poderes, além de parceiros da iniciativa privada”, diz a diretora da entidade. 

Ela lembra que uma das parcerias de fundamental importância foi com o Ação Pela Paz. “O instituto nos auxilia no aprimoramento da gestão de projetos, na construção de fluxo de processos e, sobretudo, a demonstrar à sociedade, de forma técnica e profissional, os resultados alcançados pelas APAC”, explica Tatiana Faria.

Na percepção de Solange Senese, o trabalho das APACs é uma amostra de como o país pode se destacar nessa área. “É o Brasil demonstrando que possui tecnologia social focada na recuperação das pessoas que cometeram crimes e decidem mudar de vida”, conclui.

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