Ação pela Paz - O valor de um olhar

Olhar Mais de Perto

O valor de um olhar

Por Neuda Martins
Foto: Estela Gonçalves (Freepik - domínio público)
Foto: Estela Gonçalves (Freepik - domínio público)

Se os olhos são as janelas da alma, o olhar deveria refletir um pouco de nossa alma. Me chamo Neuda Maria de Souza Martins, tenho 52 anos e há cinco anos faço parte da equipe do Instituto Ação Pela Paz.

Em 2016, eu entrei pela primeira vez em uma unidade prisional, o Centro de Ressocialização de Limeira, com um grupo de voluntárias. O primeiro olhar que tive foi de choque e tristeza ao ver que a maioria daqueles homens eram jovens. Logo eu pensei em meus filhos. “Como assim? Muitos deles têm a idade dos meus filhos e estão aqui, ociosos e perdendo anos de suas vidas”. Fiquei inconformada e ao sair dali chorei.

Pouco tempo depois fui convidada para trabalhar no Instituto Ação pela Paz e o primeiro questionamento que fiz foi: “será que tenho perfil?”. Mas acredito que Deus nos conduz a caminhos para os quais Ele já nos preparou e, olhando para minha história, as oportunidades que Ele me concedeu, com certeza, eram me preparando para vivenciar a experiência de atuar com pessoas privadas de liberdade e egressas.

Nesses cinco anos no instituto, eu tenho visitado várias unidades, participado de eventos e acompanhado muitos projetos e percebo que nenhum ressoa tanto como aquele que oportuniza um olhar para si. Mesmo que essas pessoas busquem tantas coisas, trabalho, educação, reatar laços, cumprir sua pena e sua liberdade, no fundo o que mais desejam é serem olhados e enxergados.

Buscam ser reconhecidos não simplesmente como mais um número de matrícula, mas enxergado na sua essência como um ser humano como alguém que tem uma história, tem habilidades, tem sonhos, tem erros, mas também tem acertos.

Um olhar que muitas vezes faltou no decorrer da história por parte da mãe, do pai, do professor, do médico, de si mesmo, da sociedade. Sociedade que na sua grande maioria permanece cega para o humano encarcerado como um dia eu também fui.

E o questionamento que me vem é como desvelar os olhares da sociedade para enxergarem essas pessoas?

Oportunizando a outros descobrirem o que já nos foi desvelado. Somos todos seres humanos e precisamos descobrir o valor de um olhar.

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