Em Porto Velho
Organização de Rondônia expande ações para ressocialização de presos e egressos
Acuda se prepara para completar 21 anos de um trabalho que está ajudando a mudar a realidade prisional em Porto Velho
Por Marcos Ferreira | Redação
Desde que a Associação Cultural de Desenvolvimento do Apenado e Egresso (Acuda) surgiu em 2001, o seu objetivo sempre foi auxiliar a região de Rondônia a diminuir o alto índice de reincidência criminal no estado. Ao longo dos anos, o trabalho foi alicerçado no combate ao preconceito e à exclusão social em relação à população privada de liberdade e egressa do sistema prisional.
Em parceira com o Governo do Estado de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado de Justiça de Rondônia (SEJUS) e Fundação Estadual de Atendimento Socioeducativo (FEASE), a Acuda desenvolveu um método para alcançar seu propósito.
Espiritualidade, educação e assistência são os três pilares que conduzem as dezenas de ações executadas pela entidade. Com esses pontos, a associação apresenta aos beneficiários novas formas de enfrentamentos para uma vida mais plena dentro e fora das prisões, com mais respeito, dignidade e cidadania.
Promovendo atividades de qualificação profissional, a Acuda tem em sua grade cursos e capacitações que abordam conhecimentos em trabalhabilidade – conceito que trata o potencial da pessoa para gerar trabalho e renda, mirando o empreendedorismo. Outra frente traz conteúdos sobre empregabilidade, apresentando aos alunos o caminho para o mercado formal. Além disso, há diversas atividades, como a oficina de cerâmica, na qual são produzidos vasos e utensílios.
Essas atividades são complementadas com uma preocupação assistencial para quem está em situação de vulnerabilidade. A organização presta atendimento às necessidades básicas dos participantes dos programas, focando na saúde integral e visando, principalmente, a redução dos danos psíquicos e emocionais causados às pessoas privadas de liberdade.
Autoconhecimento e comunicação
O trabalho psicossocial da Acuda é um dos destaques de sua atividade com o público em cumprimento de pena e egresso. A espiritualidade como meio de gerar reflexão e autoconhecimento para a ressocialização está presente em várias ações.
Os beneficiários recebem atendimentos terapêuticos e religiosos, com a aplicação de meditação, Geoterapia com ervas medicinais, Terapia Reiki, Cone Chinês, Aurículo Terapia, Yoga, Massagem Ayurvédica e Psicodrama. Sessões de Biodança, Cromoterapia, Dança Circular, Teatro, Constelação Familiar, Eneagrama, dentre outras terapias, também compõem o leque da instituição.
Mesclando bem tudo que é proposto em sua linha de trabalho, a Acuda mantém a Escola de Formação de Terapeutas Integrativos e Transpessoais, que faz parte das ações do seu pilar de espiritualidade. Os aprendizes dessa oficina se relacionam de forma prática e conceitual com técnicas integrativas e complementares. Ao fim das aulas, os alunos têm a oportunidade de estagiarem na área, executando os conhecimentos adquiridos.
Não à toa, esse trabalho vem se tornado referência no apoio às pessoas que passam por unidades prisionais. Um pouco dessa história está presente no primeiro episódio da segunda temporada da série documental "Por dentro das prisões mais severas do mundo" (Netflix / 2018).
A produção britânica exibe uma imersão no sistema penitenciário de Porto Velho. Em contraponto às lacunas e dificuldades encontradas, a reportagem do jornalista investigativo Raphael Rowe destaca a ACUDA como um oásis dentro deste cenário.
Em 2022, com o apoio do Instituto Ação Pela Paz, a associação deu início a um processo de fortalecimento organizacional por meio da estruturação de uma área de comunicação. De acordo com o analista de projetos Kaio Nunes, “o intuito é aprimorar a divulgação de projetos e realizações pouco conhecidas pela sociedade de um modo geral”.
O instituto auxiliou na contratação de um profissional para executar serviços comunicacionais. O novo integrante da equipe Acuda é responsável pela assessoria de imprensa da ONG, além de trabalhar todas as mídias sociais, materiais de audiovisual e comunicação institucional.
“Há um investimento em equipamentos e softwares para que essa pessoa possa desenvolver seu trabalho com excelência. Notebook, pacote Adobe completo, celular com qualidade de imagem, microfone, tripé, entre outros itens ajudarão na qualidade final dos trabalhos”, explica Kaio.
Hoje a Acuda está presente em três espaços com focos diferentes. O primeiro deles, batizado de Programa Iluminar, foi instalado no Complexo Prisional de Porto Velho e é voltado para pessoas em regime de privação de liberdade.
Já o Programa Vida Livre, conhecido como “Acudinha”, é todo direcionado para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. Por fim, o Patronato Penitenciário realiza atendimento com egressos do sistema prisional e ocupa o antigo presídio feminino de Porto Velho.
O local escolhido ficou marcado no passado por sérios problemas estruturais, mas hoje é palco de histórias pautadas na esperança de dias melhores, tanto para quem deixa o crime para trás, quanto para a sociedade que convive com uma nova realidade em construção.
Luiz Marques, terapeuta e presidente da Acuda, resume o sentido dos trabalhos realizados. “São 21 nos de compaixão, de mais uma proposta, como é a nossa associação, que, entre tantas outras excelentes propostas que existem, além de garantir os diretos fundamentais da pessoa que está ou já foi privada de liberdade, pode dar ferramentas para que possam fazer um novo fim, já que não podem voltar atrás e fazer um novo começo”, conclui.
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