Passarela Alternativa

Projeto aborda moda e sustentabilidade para mulheres egressas prisionais

"Abiosorventes" promove empreendedorismo, desenvolvimento humano e geração de renda
Mulheres aprendem e desenvolvem atividades remuneradas com projeto - Foto: Kaio Nunes
Mulheres aprendem e desenvolvem atividades remuneradas com projeto - Foto: Kaio Nunes

Por Marcos Ferreira | Redação

"Um dia me perguntaram por que eu me importo, luto e faço auê por mulheres egressas do sistema prisional. Eu não enxergo essas mulheres por nomenclaturas e estigmas. São mulheres e ponto. Essas mulheres são gente, são humanos tanto como nós”, diz a estilista Karen Brandoles em um depoimento ao explicar os princípios da Passarela Alternativa, ONG fundada por ela em 2018.

Com um nome que fala muito de seu trabalho, a instituição utiliza práticas da justiça restaurativa por meio da moda, com propósito de reduzir a reincidência criminal e emancipar mulheres privadas de liberdade e egressas do cárcere.

Dentre as iniciativas promovidas, a Passarela Alternativa, com o apoio financeiro e estrutural do Instituto Ação Pela Paz, deu vida ao “Abiosorventes”, um projeto que capacita egressas e familiares com ensinamentos em corte e costura e empreendedorismo – o segundo ministrado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) através de uma parceria. O conteúdo é divido em dois módulos de 12 e quatro aulas, respectivamente.

Após essa etapa, as participantes têm a missão de montar um desfile com as peças criadas ao longo do treinamento e elas mesmas ficam encarregadas de irem para a passarela apresentar o look. Karen explica que a proposta do formato é, sobretudo, promover a ideia de que todas são capazes.

“Usamos a metodologia de 80 x 20. 80% teoria e prática e 20% desenvolvimento humano com técnicas do psicodrama que trabalha o eu; eu mais outro e o nós. Não queremos, e não somos, um projeto para oferecer apenas um ofício, mas nos comprometemos em estimular o aprendizado, ampliando o repertório cultural”, conta a fundadora da associação.

Desse time, cinco mulheres são selecionadas para passar por um monitoramento e atuar na confecção de 1.000 absorventes reutilizáveis que formarão 200 kits com cinco unidades cada. Com destino certo, os produtos serão doados para duas unidades prisionais femininas de São Paulo. Por esse trabalho, as envolvidas na produção recebem uma renda pela execução das atividades.

Foto: Kaio Nunes
Foto: Kaio Nunes

Questão social e ambiental

A ideia de produzir absorventes laváveis partiu da observação de Karen em relação à pobreza menstrual, termo utilizado para tratar a falta de acesso a produtos necessários para manter uma boa higiene no período da menstruação, um problema que deriva das más condições financeiras e a ausência de infraestrutura, especialmente de saneamento, em diversas localidades.

“Não tem mais como falar em necessidades mensais das mulheres sem pensar em qualidade, saúde, sustentabilidade nos ciclos e, também, no caminho que esse descarte é feito até ser desovado”, diz ela.

A percepção de Karen tem um fundamento preocupante. Para se ter uma ideia, cada mulher descarta em média 15.000 unidades de absorventes ao longo da vida ovularia. Atualmente, são aproximadamente 2 bilhões de habitantes que menstruam no mundo. Só no Brasil o número de pessoas nessa condição é de 30 milhões. Essa multiplicação resulta ao equivalente a 450 trilhões de absorventes descartados em aterros sanitários ao redor do país.

“Enxergo a moda como uma forma evidente, política, potente e impactante de nos colocarmos no mundo. Faço da moda um exercício experimental (e possível) de liberdade. Por esse motivo, trabalho a moda a favor da vida e da dignidade humana para o desenvolvimento social e a emancipação econômica de mulheres”, fecha Karen Brandoles.

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