Ação pela Paz - Projeto de leitura em penitencirias oferta ressocializao a sentenciados

56 títulos

Projeto de leitura em penitenciárias oferta ressocialização a sentenciados

Programa “Lendo a Liberdade”, em parceria com a Funap, ocorre em 19 unidades prisionais da região e objetiva que presos produzam resenhas críticas
Projeto oferece 56 ttulos para escolha dos participantes  Foto: jornal O Imparcial
Projeto oferece 56 títulos para escolha dos participantes – Foto: jornal O Imparcial

“O momento da leitura é a oportunidade que tenho para me transportar para o mundo fora da prisão”. Esta é afirmação de P.E.C., 28 anos, sentenciado que cumpre pena na Penitenciária Silvio Yoshihiko Hinohara, em Presidente Bernardes. Na unidade prisional, ele é um dos monitores designados a auxiliar os demais reeducandos que participam do Programa de Incentivo à Leitura “Lendo a Liberdade”. O projeto é desenvolvido pela Funap (Fundação Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel) e SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) em parceria com a APL (Academia Paulista de Letras). O objetivo do trabalho vai além da remissão de pena. Como dizia José Saramago: “A leitura é, provavelmente, uma outra maneira de estar em um lugar”.

Na região de Presidente Prudente existem 28 clubes de leitura, espalhados em 19 unidades prisionais que possuem acervo de aproximadamente 1,5 mil livros, doados pelo Instituto Ação Pela Paz. Aos participantes, são oferecidos 56 títulos para que eles escolham em qual universo desejam entrar. “Durante o tempo de um mês, o reeducando precisa finalizar a leitura da obra. Neste período existem três encontros: a escolha do título; a mediação [momento para opinar aos colegas, sem contar o final]; e o terceiro encontro é quando se reúnem para escrever a resenha crítica a respeito do que leu”, explica Camila Cardoso Menotti, gerente regional da Funap. De acordo com a fundação, por mês, há uma média de 400 textos escritos pelos reeducandos.

“Aval do juiz”

Depois de finalizado, todo este material é digitalizado e encaminhado para a correção, trabalho desenvolvido por estudantes universitários da região. Além da análise dos jovens, o material ainda deve passar por um juiz de Direito que avaliará a escrita para dar “o aval” a respeito do que foi escrito. Um texto aprovado pode significar até quatro dias a menos no cárcere. “A atividade desperta no participante o gosto pela leitura, o que também contribuirá ao sentenciado o retorno em sociedade”, salienta Camila.

Everson Gardenal, diretor técnico III da Penitenciária, acredita que o contato com a leitura também contribui para futura ressocialização, algo que já começa a ser observado nos dias em que os rapazes se juntam para debater os temas. “Os participantes são os maiores beneficiados com a atividade, porque faz com que ele desenvolva o hábito da leitura. Desta forma, ele se ocupa e evita ficar muito tempo parado na penitenciária, pensando em outras coisas”, pontua o diretor.

Mudança de hábito

No começo do mês, a reportagem foi convidada a conhecer de perto o trabalho desenvolvido pela Funap, em Presidente Venceslau. Depois de um breve encontro com os responsáveis pelo projeto, a equipe se deslocou pelos corredores com grades e portas automáticas, até chegar ao espaço destinado ao aprendizado dos sentenciados. Foi neste local em que fomos recebidos por Editanes Professor, monitora de educação da Funap, e por um grupo de reeducandos que simulou o terceiro encontro do projeto: o dia da resenha.

Como mencionado no início da reportagem, o P.E.C., 28 anos, vê na leitura o momento para vivenciar “o mundo fora da prisão”. Cabisbaixo, tentando esconder a timidez, afirma que procura passar aos alunos a diferença entre ler e interpretar o conto, “mesmo que a leitura esteja ruim”. Entre os monitores, R.M.D.S., 36 anos, busca transmitir a experiência de vida como incentivo aos colegas. Isso porque, por detrás das grades, tem um passado de reconhecimento quando contribuiu como colaborador em uma coletânea de poesias, publicada nacionalmente.

“Estou vendo de trazer o livro e mostrar aos participantes. Acredito que eles vão se sentir motivados”, explica. E são práticas de incentivo que serviram para que M.B.P., 37 anos, adquirisse o hábito pela leitura na prisão. “Agrega muito valor na vida da gente, é um sentimento de satisfação fazer parte deste projeto”, afirma o reeducando.

Matéria publicada dia 30 de maio de 2019, no jornal O Imparcial.
Reportagem de ROBERTO KAWASAKI.

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