Ação pela Paz - Projeto "Mãos Estendidas" presta assistência para familiares de reeducandos

Empatia

Projeto "Mãos Estendidas" presta assistência para familiares de reeducandos

Iniciativa apoia visitantes de unidade prisional em Piracicaba, SP, com café da manhã, rodas de conversas e dinâmicas
Vanessa Bonilha - Foto: divulgação
Vanessa Bonilha - Foto: divulgação

Por Marcos Ferreira | Redação
Com colabração de Maurício Ribeiro

A rotina de uma pessoa privada de liberdade é repleta de restrições. A retirada da sociedade para fins penais e educativos é necessária de acordo com a lei, mas, naturalmente, gera uma série de impactos não só para o detido, mas a quem está à sua volta.

O familiar do recuperando sofre consequências diretas e indiretas. Muitas mães e companheiras têm seus recursos financeiros comprometidos com a reclusão de filhos ou parceiros. Manter o vínculo afetivo, algo importante para a ressocialização do apenado, pode gerar uma rotina difícil para o parente.

O orçamento reduzido ainda sente o agravamento com os gastos para o ir e vir entre o local de moradia e a unidade prisional no qual o ente querido cumpre sua sentença. Inúmeras famílias realizam sacrifícios para estarem presentes nas visitas, muitas vezes sem conseguir garantir uma alimentação saudável. Em São Paulo, milhares de pessoas cruzam as estradas do estado por horas ou dias. Na capital, região metropolitana e interior, é comum a rota se iniciar ainda de madrugada pelo transporte público.

Todos os sábados, nos arredores da Penitenciária Masculina de Piracicaba, estas famílias são recepcionadas pelos voluntários do “Mãos Estendidas” projeto que provê café da manhã, acolhimento e empatia para pessoas que lutam em manter acesa a chama do convívio com o reeducando em cárcere.

A iniciativa surgiu do olhar atento da estudante de enfermagem Vanessa Bonilha, que enxergou as dificuldades de quem vive do lado de cá das grades. O trabalho começou a ser desenvolvido em 2018 e era apoiado por uma igreja local.

Com o agravamento da crise sanitária, durante o ápice da contaminação de coronavírus no Brasil, as visitas presencias foram suspensas e o projeto interrompido. Após dois anos, o “Mãos Estendidas” conseguiu retomar suas atividades.

Nessa nova fase, a execução da rotina é apoiada pelo Instituto Ação Pela Paz, por meio do SEMEAR (Sistema Estadual de Métodos para Execução Penal e Adaptação do Recuperando). A organização social contribui com equipamentos de cozinha, estoque de alimentos, além do auxílio estrutural.

Para Daniella Reina, líder da área de projetos do Ação Pela Paz, a família é fundamental no processo de ressocialização de quem está em privação de liberdade. “Sua proximidade pode gerar mais segurança e estímulo para que o reeducando consiga ressignificar suas escolhas e motivá-los para novas tomadas de decisão”, diz. “Vale ressaltar que acolher a família é reconhecer sua importância para essa transformação", explica.

Foto: reprodução
Foto: reprodução

Em uma tenda do lado de fora da unidade prisional, os voluntários servem uma refeição matinal que começa a ser preparada às 3h da manhã. A equipe também se dedica a organizar e entregar lembrancinhas e kits em ocasiões especiais, como Páscoa, Dia dos Pais e Natal.

O caráter psicossocial é outro fator relevante. Rodas de conversas, bate-papos individuais e dinâmicas são mecanismos utilizados no projeto para aumentar a perspectiva de futuro dos participantes e ajudá-los a compreenderem a importância de seu papel na reintegração social do recuperando. Nesse contexto, o próprio preso, mesmo à distância, sente a valorização do seu núcleo familiar, umas das principais preocupações de quem cumpre pena.

“Essas pessoas são acolhidas pelos voluntários com afeto, processo iniciado no café da manhã, algo simples, mas valioso para que está em jejum numa fila”, comenta Daniella. “Durante o tempo de espera, são realizados exercícios guiados pela equipe e com base no diálogo. Isso tudo ocorre com o objetivo de amparar essas pessoas, criar um espaço de escuta atenta e reforçar a importância do papel da família na reabilitação do reeducando”, pontua.

Devidamente regularizado e com apoio externo, o grande diferencial do programa é a solidariedade de quem se preocupa com o próximo. “Algumas pessoas se prontificam a doar itens que farão parte do café da manhã, outras se candidatam a servir às famílias. Toda contribuição é válida. O que não podemos é fechar os olhos, nem encolher nossas mãos”, reflete Vanessa Bonilha.

A empatia rege o projeto desde sua criação e é facilmente traduzida em poucas palavras. No local onde a ação é realizada, uma faixa traz a seguinte inscrição: “Por menos dedos apontados, e mais mãos estendidas”.

Sobre o SEMEAR

O Semear (Sistema Estadual de Métodos para Execução Penal e Adaptação do Recuperando) foi criado em 2014 por meio do provimento da Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo e tem como parceiros a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e o Instituto Ação pela Paz. O programa busca maior efetividade na recuperação dos presos e suas famílias.

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