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Resiliência – o poder da autotransformação

Por Cicero Alves de Lima Júnior
Cicero Alves em sua cerimnia de colao de grau - Foto: divulgao
Cicero Alves em sua cerimônia de colação de grau - Foto: divulgação

Sou Cicero Alves de Lima Júnior, tenho 37 anos e estive recluso por nove anos e cinco meses no Sistema Prisional Alagoano. Durante o tempo de reclusão, participei de todos os Exames Nacional do Ensino Médio (ENEM) e, no ano de 2014, fui considerado o preso com maior pontuação no ENEM, chegando a conseguir 900 pontos na redação.

Por meio desta pontuação, iniciei um processo para o Ensino Superior dentro do Cárcere e, em 2015, fui matriculado no Curso Bacharelado de Administração pela UNOPAR (Universidade Norte do Paraná), na modalidade 100% online, sendo considerado o primeiro preso do estado de Alagoas a iniciar uma graduação e concluir em regime fechado. Atualmente curso Bacharelado em Direito, minha segunda graduação.

No início da prisão, perdi tudo o que tinha: trabalho, casa, esposa e amigos, vindo a restar apenas meu pai, mãe e irmã. Tinha tudo para desistir e sair como uma pessoa extremamente agressiva e revoltada devido a um sistema carcerário que, infelizmente, ressocializa pouco.

Mesmo no cárcere procurei sempre estudar e trabalhar para reduzir o meu tempo de encarceramento e voltar para a sociedade. Durante o período de reclusão, conheci minha atual esposa, devido a uma ligação telefônica que fiz de dentro do cárcere. Hoje estamos casados e com nosso filho de cinco anos.

Meu pai que sempre me acompanhou durante o tempo de reclusão, nos últimos anos, já perto de progredir meu regime, ele foi acometido por um câncer, que fez com que viesse a falecer em setembro de 2018. Porém, ele foi meu maior inspirador, pois, com 65, conseguiu se formar em Engenharia Civil, vindo infelizmente a falecer após um ano. Sofri muito devido à perda de meu pai, porém não desisti de lutar pelos meus sonhos e entre eles estavam a conclusão do Ensino Superior e o início de minhas duas pós-graduações.

Foto: reproduo
Foto: reprodução

Entre os anos de 2015 e 2018, participei de todas as edições do ENEM. Devido as participações, me matriculei no Curso de Biblioteconomia, na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e fui pré-selecionado para o Curso de Engenharia Civil, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Infelizmente, perdi a oportunidade de cursar ambas as graduações por me encontrar preso.

Conclui o Curso de Administração em dezembro de 2018, iniciei, ainda recluso, duas pós-graduações: um MBA em Gestão Pública e um MBA em Liderança e Coaching na Gestão de Pessoas, ambas na modalidade EAD e já estão concluídas. Conclui 80 cursos profissionalizantes em áreas afins e agora pretendo participar da seleção do Mestrado em Administração Pública, com a pretensão de abordar a Gestão Carcerária.

Tive um Artigo Científico nomeado “Educação e ressocialização no sistema prisional: a execução da pena e a experiência de Educação Superior à Distância no Núcleo Ressocializador da Capital”, publicado no Livro “Educação em Prisões: princípios, políticas públicas e práticas educativas”, da Editora CRV, lançado em dezembro de 2018, pelo Grupo de Pesquisa CNPq Educação em Prisões (GPEP) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Participei do curta-metragem, lançado no dia 31 de maio de 2019, no Cine Arte Pajuçara em Maceió, denominado “Além das Grades”, que conta o trabalho de Neurociência aplicado ao Coaching para os Reeducandos do Núcleo Ressocializador da Capital pelo projeto Produtivamente, que ainda hoje se encontra em pleno funcionamento.

No dia 30 de abril, recebi meu diploma de conclusão do Ensino Superior em uma cerimônia no Tribunal de Justiça de Alagoas, sendo o primeiro reeducando a receber um diploma de conclusão do Ensino Superior nas dependências de um Tribunal de Justiça.

Hoje sou palestrante e coaching em liderança, motivação, tecnologia, administração penitenciária e execução penal. Organizei e dirigi o primeiro seminário sobre educação em prisões, com o tema “O cenário da educação em prisões: a importância da formação profissional dos reclusos e os projetos sociais e acadêmicos no contexto carcerário”.  

Atualmente, sou Multiplicador do Instituto Recomeçar no Pernambuco e Nordeste, Instituto que teve início como um projeto dentro da rede Gerando Falcões, criado em 2015, com o objetivo de reintegrar à sociedade homens e mulheres egressos do sistema penitenciário, que cumpriram suas penas e carecem de apoio para dar um novo rumo à vida, seu objetivo é capacitar, instruir, formar com princípios morais, sociais, profissionais, familiares, os egressos viabilizando e orientando sua inserção no mercado de trabalho e na sociedade.

Assista ao documentário "Além das Grades":

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