Psicosocial
"Semeando Sonhos" recupera objetivos e desejos de pessoas privadas de liberdade
Edição do projeto foi realizada no Centro de Detenção Provisória de Capela do Alto, em São Paulo
O período dentro de uma unidade prisional deve ter o objetivo de apoiar quem cometeu algum crime, possibilitando sua integração à sociedade ao fim do cumprimento de pena. Porém, a realidade das prisões não é fácil e, mesmo com todo o suporte, deixa marcas que podem acarretar problemas de autoestima, baixa perspectiva de futuro, entre outras coisas.
Buscando reverter isso, o projeto “Semeando Sonhos, Despertando Possibilidades” tem como foco valer exatamente o seu nome. O projeto, realizado em presídios desde 2017 – sempre com o apoio do Instituto Ação Pela Paz –, teve sua primeira edição EAD (ensino à distância) no Centro de Detenção Provisória de Capela do Alto, em São Paulo. O conteúdo foi aplicado entre os meses de julho e outubro de 2021.
Ao todo, 15 reeducandos participaram de 12 encontros temáticos que tinham como finalidade facilitar a conscientização do potencial humano, por meio do resgate de valores pessoais. Desde sua criação, o projeto sempre teve o intuito de desenvolver ações que fortaleçam o beneficiário a levar uma vida com mais autonomia e responsabilidade em suas escolhas, permitindo a ele superar as situações capaz levá-lo a reincidir no delito.
Com um intuito de promover um ambiente acolhedor, o projeto foi desenvolvido com o propósito de contribuir para um processo reflexivo sobre a ampliação do sentido da existência. A ideia envolve a motivação do participante em elaborar um planejamento de vida, por isso o programa teve ações que trataram de tópicos como convivência em sociedade, relações interpessoais, família e trabalho.
Dentro desse contexto, foram abordadas questões como solidão, isolamento, depressão e comunicação não violenta. A perspectiva de futuro é mais um assunto sempre presente ao longo dos três meses de formação.
Com uma metodologia criada pelo psicólogo Maurício Cardenette e o escritor e egresso Luiz Alberto Mendes (falecido em 2020), o “Semeando Sonhos” hoje é ministrado por multiplicadores de áreas como psicologia, serviço social e pedagogia, ou que tenham experiencia na condução de grupos. A multidisciplinaridade potencializou a qualidade na elaboração de cada aula.
Em Capela do Alto, os encontros foram conduzidos por um multiplicador externo, que contou com o apoio de monitores reeducandos da FUNAP, que já carregam a experiência de cursos anteriores.
“O Semeando Sonhos é uma oportunidade de ressignificar escolhas e fazer com que o participante fortaleça suas habilidades e inteligência emocional, fatores essenciais para que realizem escolhas que os levem ao retorno e permanência na sociedade”, diz Daniella Reina, psicóloga e analista de projetos do Ação Pela Paz, e uma das responsáveis por formar pessoas para levar o projeto adiante e conduzir as supervisões dos trabalhos.
Para Leandro Amaral, Agente de Segurança Penitenciária do CDP de Capela do Alto, “os reeducandos estão refletindo antes de tomar as atitudes, diminuindo em muito o índice de ausências nos cursos, faltas disciplinares nos pavilhões de trabalho, etc.”.
Em uma análise sobre a aplicação do projeto, todos que concluíram as etapas afirmaram que a iniciativa contribuiu para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. 100% dos integrantes da turma acreditam que o “Semeando Sonhos” colaborou para o reconhecimento da própria história, na melhora no convívio, no seu bem-estar e na autoestima, além de enxergam que o programa pode colaborar com a sua recuperação e que contribuiu para melhora na disciplina.
Rochelly Tatsuno, analista de projetos do Instituto Ação Pela Paz, lembra que oferecer um conteúdo, que na sua essência é conduzido presencialmente, de forma online, foi um desafio. “Os esforços do CDP de Capela do Alto, dos reeducandos participantes e monitores, além do Tadeu Reis (facilitador responsável pela execução dos encontros) e da Daniella Reina, conseguimos concluir com sucesso e satisfação de todos os envolvidos. Espero formar novas turmas, pois acredito no poder transformador que o projeto oferece", relata.
“Esse projeto tirou os sonhos da subjetividade e os trouxe para uma realidade, muitas perspectivas para um hoje e um amanhã melhor, proativo e consciente que eu posso”, conclui um dos reeducandos.