Mês de conscientização
Setembro Amarelo: projetos psicossociais apoiados pelo Ação Pela Paz
46% dos projetos que recebem apoio do Instituto trabalham com demandas psicossociais
Anualmente, durante o mês de setembro, são realizadas ações, eventos e reflexões sobre a prevenção do suicídio, tema ligado à saúde mental. Chamada de Setembro Amarelo, a campanha é uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Em 2020, até o momento, 46% dos projetos apoiados pelo Instituto Ação Pela Paz foram direcionados para atender demandas psicossociais das pessoas privadas de liberdade e egressas do sistema prisional.
Com a chegada da Pandemia, ocasionada pelo COVID-19, muitas atividades foram pausadas dentro das unidades prisionais. “Esse cenário faz com que as reeducandas passem mais tempo reclusas nos pavilhões habitacionais, impedindo a possibilidade de contato físico com seus familiares o que pode desencadear em desajustes psicológicos”, comenta Luiz Fernando Boteon, Diretor Geral da Penitenciária Feminina de Campinas, onde acontece o projeto “Conviver – Oficina de Crochê”, um dos projetos pensados neste momento de epidemia.
Na unidade, a técnica do crochê está sendo utilizada como forma de ajudar as reeducandas a passarem por este momento, já que as visitas, o trabalho e muitas atividades foram pausadas com o objetivo de diminuir o contágio da doença. Além da penitenciária de Campinas, as aulas de crochê, que são ministradas pelas próprias reeducandas para as suas colegas, acontecem em outras três unidades prisionais do estado de São Paulo. Os projetos de aprendizado do crochê proporcionam uma atividade mental saudável e criativa, podendo amenizar o momento pelo qual estão passando.
Tentando minimizar os impactos da suspensão de visitas, os estados do Maranhão, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul, com o apoio do investimentos social do Ação Pela Paz, estão realizando visitas virtuais assistidas entre os reeducandos e suas famílias. Esses encontros, mesmo de forma virtual, foi uma maneira de gerar uma comunicação entre pessoa privada de liberdade e seus familiares durante a pandemia, podendo acalmar e fortalecer os vínculos dessas famílias, impactando na saúde mental.
Com as pessoas egressas do sistema prisional não é diferente. É importante ter um trabalho e acompanhamento psicossocial com essas pessoas que podem carregar hábitos e costumes prisionais para a vida em liberdade. “As demandas individuais psicológicas para quem já foi preso e viveu apartado de sua família e sociedade, num ambiente opressor, onde a cultura criminal é densa e perpassa por todos que ali convivem podem ser muitas”, reflete Claudia Cardenette, Diretora Administrativa do Ação Pela Paz.
Para Claudia, o fato de ter que se adaptar em um ambiente onde não há confiança entre as pessoas, as regras disciplinares oferecem raros espaços para que a pessoa privada de liberdade seja protagonista de seu cumprimento de pena, a desconfiança contínua do olhar do outro, a falta de afeto, entre outros efeitos morais e sociais do aprisionamento, tudo isso pode acarretar questões psicológicas a serem trabalhadas. Na quarentena, devido a pandemia, pudemos ter uma breve percepção do que é estar “preso”, mesmo que de forma privilegiada em nossos lares, afastado das pessoas que gostamos e sentir como isso afeta nossos sentimentos, emoções e a nossa saúde mental.
As organizações sociais apoiadas pelo Ação Pela Paz possuem um trabalho psicossocial e de assistência social perene, a fim de atender as demandas dos beneficiários, como o caso do Responsa, ONG que funciona como uma agência de emprego social para egressos.
O acompanhamento psicossocial começa com os egressos no momento que eles procuram o Responsa. “A pessoa que chega até nós, é acolhida pelo psicossocial, para entendermos o contexto, histórico e cultura, já que muitas vêm do mundo do crime e passaram muito tempo encarcerado”, comenta Izabel Walci, Assistente Social da organização. Esta primeira etapa é importante para conhecer o passado do atendido e saber quais os acompanhamentos e atividades realizadas para aquela pessoa. “Nesta primeira entrevista com o psicossocial temos esse olhar, para o diagnóstico”, completa Izabel.
O Jorge Lopes é egresso do sistema prisional e há dois anos é atendido pelo Responsa. “Ter o acolhimento psicológico e social oferecido pelo Responsa é muito importante para mim, até mesmo pra minha mudança de comportamento após sair do cárcere”, comenta Jorge que ficou privado de liberdade durante 17 anos.
Durante a Pandemia, que ocasionou perdas de emprego, o Responsa continuou com os acompanhamentos aos assistidos e prestadores de serviços. Além do apoio em regularização de documentos para receberem o auxílio emergencial do Governo Federal, os psicólogos acompanharam de perto os egressos neste momento. “Alguns tiveram acompanhamento mais de perto, por conta do agravamento de problemas psicológicos, como depressão. Mas todos estão sendo acompanhados psicologicamente, de acordo com a necessidade e escolha pessoal”, expõe Izabel.
“O Responsa não é só ONG, é uma família. Tenho um acompanhamento bem sério. O comportamento da gente que ficou preso, queira ou não, fica diferente. Sair da cadeia é um mundo novo, coisas novas e diferentes. Eu que vivi uma vida de crime, não tinha noção que podia alcançar o que alcancei hoje e essa assistência do Responsa, junto a minha vontade de mudar, foram essenciais para minha mudança”, finaliza Jorge.