Olhar Mais de Perto
Torna-te necessário a alguém
Por José Aparecido Mauricio Cavalcante
“Torna-te necessário a alguém.” Há um tempo eu ouvi essa frase e ela ecoou nos meus ouvidos como uma missão. Como são as coisas, somente há poucos dias fiquei sabendo, através de uma live do professor Mario Sergio Cortella, que essa é uma frase do filosofo norte-americano Ralph Waldo Emerson.
Em dias atuais de pandemia, em que estamos vivendo momentos difíceis que afligem a todos, quando o que é essencial está diante de nós fazemos a pergunta: nos importar com o outro, com nosso próximo?
Quando recebi o convite para escrever nesta coluna, pensei: ‘o que vou relatar ali?’. São tantas coisas e experiências a se contar nesses quase 20 anos, atuando no sistema penitenciário paulista, na área de recursos humanos, e atualmente na reintegração social.
Sempre diante das dificuldades eu me pauto pela missão a nós confiada de cultivar nesta terra tão árida que é o sistema penitenciário, quando só se olha superficialmente, mas ao mesmo tempo tão frutífera e com tanto a explorar.
“A Secretaria da Administração Penitenciária se destina a promover a execução administrativa das penas privativas de liberdade, das medidas de segurança detentivas e das penas alternativas à prisão, cominadas pela justiça comum, e proporcionar as condições necessárias de assistência e promoção ao preso, para sua reinserção social, preservando sua dignidade como cidadão.
E comprovado que é através de projetos e ações de fortalecimento de vínculos, da valorização humana, que se faz o autorresgate, quando a pessoa entende que errou e está pagando por aquele erro, e tem a oportunidade de provar essa mudança, coisas boas acontecem. É um processo e nós, servidores, fazemos parte dessa engrenagem. Isso é maravilhoso!
Há muita negatividade da maioria das pessoas, “população civil no geral”, em relação aos privados de liberdade, da banalidade do “todos que foram presos são iguais, não merecem uma segunda chance, devem apodrecer na prisão enfim….”
Cabe ressaltar que é possível a mudança, voltar à sociedade e ter um recomeço. Isso nós faremos com sucesso se nos pautarmos na proposta que nos é oferecida enquanto participantes desse corpo.
Outro dia vi uma frase escrita na parede de um hospital. Ela dizia: “Cuidado ao se reportar com agressividade e falta de respeito com o profissional da saúde, eles também são o amor de alguém!”.
A mensagem ressalta a importância dos profissionais da área da saúde, que são guerreiros na linha de frente desta pandemia, que todos os dias colocam sua via em risco em prol do outro, porque fizeram um juramento. Então, automaticamente, pensei também nos sentenciados, eles também são o amor de alguém. É um pai, um irmão, um filho, um esposo… tem alguém esperando por eles lá fora.
Paro e penso que quando conseguirmos olhar o outro sem a ótica do julgamento direto pelas ações que o levaram a tal situação, verdadeiramente seremos seres humanos melhores e o mundo um lugar melhor para todos.
A lei de Execução Penal (Lei 7.210/84) possui caráter ressocializador, e é considerada uma das mais avançadas do mundo. Desenvolver medidas que restabeleçam e contribuem para a reintegração do sujeito ao convívio social é extremamente significativo para o meio.
A ressocialização possui um papel notório para o sujeito que cometeu delito, fazendo com que ele não reincida novamente ao crime. A Lei de Execução aborda os direitos proporcionados ao preso no sistema penitenciário. Através da Lei de Execução Penal existe uma série de garantias e assistências ao reeducandos que, se devidamente aplicadas, a sociedade e as pessoas privadas de liberdade têm muito a ganhar com as inúmeras contribuições. E nós, servidores, exercemos um papel fundamental para que isso aconteça.
Como servidor público estadual do sistema penitenciário paulista, atuando na área da reintegração social, acredito no autorresgate de cada sentenciado, independente do crime cometido. Por isso os projetos desenvolvidos com os parceiros são muito importantes na ação ressocializadora, através das instituições filantrópicas, religiosas e sociedade civil.