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Trabalhando pelo impacto real

Por Bruno Mufalo
Bruno Mufalo em evento da Secretaria da Administração Penitenciária - Foto: Comunicação SAP
Bruno Mufalo em evento da Secretaria da Administração Penitenciária - Foto: Comunicação SAP

Meu nome é Bruno Mufalo, nascido em Bauru, interior de São Paulo. Sou formado em Ciências Biológicas pela Unesp e pós-graduado em Ciências Farmacêuticas pela USP. Após concluir minha dissertação de mestrado sobre a produção de vacinas para combater a malária, tomei a difícil decisão de não seguir na área acadêmica. Algo não fazia sentido para mim, apesar de estar em uma universidade renomada. Eu percebia que pouco do que era desenvolvido nos laboratórios era colocado em prática. Eu queria ver meu trabalho gerando impacto real.

Decidi voltar para Bauru e buscar oportunidades fora da área de pesquisa. Inicialmente, foquei em concursos para biólogos, mas as vagas eram limitadas e os salários pouco atrativos. Foi então que um amigo, policial militar rodoviário na época, me sugeriu: "Bruno, por que você não faz o concurso da SAP? As inscrições estão abertas". Eu nem sabia o que era a SAP, mas ele me explicou quem eram os profissionais e, apesar da imagem negativa que tinha devido às notícias, decidi buscar mais informações.

Conversei com um irmão da igreja que era Diretor Geral na época e ele me deixou confiante. Decidi prestar o concurso, realizado na mesma faculdade em Bauru, onde me formei em Ciências Biológicas. Eu encarava isso como um trampolim para uma carreira no serviço público.

Após ser aprovado, tive que escolher uma vaga e optei por trabalhar na unidade prisional que ainda seria inaugurada, o CDP de Serra Azul, em março de 2008. Devido à minha formação, fui convidado a ajudar a montar a enfermaria e organizar o dispensário de medicamentos. Durante a inauguração, conheci a Diretora de Saúde, que mais tarde se tornou minha esposa e com quem tenho um filho maravilhoso chamado Lucas.

Foto: acervo pessoal
Foto: acervo pessoal

No entanto, após cerca de 2 anos, minha esposa na época foi aprovada na prefeitura de Valinhos e decidiu pedir exoneração do cargo na SAP. Para continuarmos juntos, eu deveria deixar o CDP de Serra Azul e procurar uma unidade prisional próxima. Optei pelo CDP de Jundiaí, que havia sido recém-inaugurado em 2010. Passei 11 meses aguardando a transferência, durante os quais trabalhei em outros setores, como a carceragem, cadastro e controle de transferências.

Finalmente, em julho de 2011, fui transferido para o CDP de Jundiaí. Iniciei meu trabalho na unidade, passando por diferentes setores até ser convidado pelo Diretor Geral na época para assumir a Diretoria do Centro de Trabalho e Educação. Mais tarde, participei da inauguração da Penitenciária Masculina de Mairinque, em março de 2015.

Além de trabalhar em uma nova unidade prisional, eu aceitei o desafio de assumir uma diretoria. Foi então que percebi, na prática, o impacto positivo que eu e minha equipe trazíamos para a vida dos presos. Foi nesse trabalho que eu encontrei propósito e sentido, algo que não vi durante minha pós-graduação. Desde a elaboração de cardápios de alimentação e manutenção de equipamentos até a busca por empresas que oferecessem oportunidades de trabalho, ações em postos de saúde, delegacias e escolas públicas, oferta de ensino e capacitações, tudo se conectava.

Cada detalhe, desde a entrada da água até a Estação de Tratamento de Esgoto, estava interligado como uma engrenagem, e o beneficiado ou prejudicado era o custodiado. Aprendi com o Diretor Geral a substituir frases como "não dá" por "não sei como, mas vou fazer". Essa mentalidade nos ajudou a desenvolver em diversos aspectos, incluindo os desafios do serviço público.

Em 2017, assumi a mesma diretoria na Penitenciária II de Hortolândia, buscando ficar mais próximo da minha família na tentativa de resgatar meu casamento. Infelizmente, a proximidade não foi suficiente e nos separamos. No entanto, continuei no mesmo cargo na Penitenciária de Mairinque até ser convidado pelo meu novo líder, o Coordenador da Unidades Prisionais da Região Central, Jean Ulisses Campos Carlucci, a assumir a função atual de Diretor do Grupo Regional de Ações de Trabalho e Educação, a qual exerço com muito orgulho.

Foto: acervo pessoal
Foto: acervo pessoal

Nessa posição, sou responsável por 39 unidades prisionais, supervisionando as áreas de trabalho, educação, atividades culturais, psicossociais, esportivas, documentação dos custodiados, divulgação de boas práticas, monitoramento das ofertas de alimentação, análise de pesquisas científicas e muito mais.

Acredito, sem demagogia, que o processo de ressocialização depende de três pilares. O primeiro é a autorresponsabilidade, em que o custodiado entende que é responsável por suas ações, não podendo culpar outros. Ele está cumprindo a pena, não seus amigos, vizinhos, governo, esposa ou qualquer outra pessoa.

O segundo passo é a ação, em que o custodiado se empenha em se ressocializar. Ele retoma os estudos, faz cursos, capacitações, aprende ofícios, trabalha e se mantém ativo, contribuindo para a administração pública. Ao ajudar a administração, a jornada entre a entrada e a saída do cárcere se torna mais gratificante.

Por fim, o terceiro e mais importante passo, que coloco por último, mas que é crucial, é a confiança e a entrega da vida a algo maior. Pode ser Deus, o universo ou qualquer nome que você dê a essa força superior. O importante é ter a convicção de que existe algo além de nós mesmos, uma força que nos guia com amor e nos mostra o que precisamos aprender para viver uma existência plena e digna aqui na Terra.

Dra. Gisele Miranda, a promotora Maria Aparecida Castanho (em memória), Dr. Jean Carlucci, Bruno Mufalo e Cassetari - Foto: Comunicação SAP
Dra. Gisele Miranda, a promotora Maria Aparecida Castanho (em memória), Dr. Jean Carlucci, Bruno Mufalo e Cassetari - Foto: Comunicação SAP

Esses três passos não são fruto de teorias científicas, nem baseados em minha formação acadêmica na Unesp e USP. São observações que fiz ao longo do tempo, enquanto trabalho nessa Secretaria. Acredito sinceramente que eles são essenciais para que o custodiado possa sair da unidade prisional e não retornar.

Após toda essa trajetória no sistema prisional, percebo que a ressocialização não é apenas uma tarefa da administração penitenciária, mas também um esforço conjunto entre o custodiado, a sociedade e as instituições. Somente com autorresponsabilidade, ação e confiança em Deus poderemos construir um futuro melhor para todos.

Estou comprometido com essa missão e com o trabalho que desempenho no Grupo Regional de Ações de Trabalho e Educação. Tenho orgulho de fazer parte dessa equipe e de contribuir para a transformação positiva na vida dos custodiados. Acredito no potencial de cada indivíduo e na importância de oferecer oportunidades para que possam reconstruir suas vidas.

Sigo dedicado a buscar soluções, promover a ressocialização e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. A jornada é desafiadora, mas os resultados são gratificantes. Com empenho, comprometimento e o apoio de todos os envolvidos, tenho certeza de que podemos fazer a diferença.

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