Olhar Mais de Perto

Uma oportunidade igual a todos

Por Douglas Oliveira
Douglas Oliveira durante gravação - Foto: Marcos Ferreira
Douglas Oliveira durante gravação - Foto: Marcos Ferreira

Meu nome é Douglas de Andrade Oliveira, tenho 48 anos, casado, sou um adicto e um egresso do sistema penitenciário carioca, onde passei três anos recluso no Complexo Penitenciário de Gericinó Bangu.

Minha vida como um homem sem caráter se deu quando conheci a garota da minha vida, à qual me apaixonei e joguei tudo fora por ela. E só não morri pela mesma porque fui ajudado pelos meus familiares e profissionais da área.

Ela era tão penetrante e convencedora que me fez mudar meus hábitos, planos de crescimento escolares e até a largar família, “esposa” e “filhos” (em memória). Quando minhas filhas morreram (gêmeas), eu comecei a cavar aquele poço sem fundo de amor sem medidas. Cheguei ao ponto de traficar para sempre estar junto com a minha amada… “cocaína”!

Passei a vender o que era meu quando não tinha dinheiro, e o da minha família (roubado) para sustentar meus vícios. Mas ainda estava cavando o poço do sofrimento.

Eu era funcionário público e tinha muito tempo para pensar em largar ou não aquela vida, mas o mundo me apresentou aquela mulher que foi o meu pior pesadelo. Me apaixonei no primeiro encontro e já fui viver com ela; perdi emprego, dignidade, moral e fiquei morando na rua, junto a ela, que me traiu várias vezes. Fui preso no Deic-SP (Departamento Estadual de Investigações Criminais) por receptação, mas logo fui solto. Ela não foi me visitar, mas quando saí encontrei a maldita, que novamente começou a me dominar… o crack!

Cheguei a ficar 13 dias no centro, lá na Cracolândia, sem banho e sem comida. Fui parar na Fazenda da Esperança em Guaratinguetá. Após um ano saí, bem firme. Foi quando o desemprego e a cobrança do mundo e da família começou. Voltei para a casa daquela moça (“crack”), comecei a cavar de onde parei e então conheci o padre Toninho, que é meu amigo até hoje.

Esse namoro e os delitos me fizeram chegar ao Bangu, presídio. Na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, eu cometi um delito, conhecido pelo Artigo 157, encapsulado, majorado. Fiquei três anos preso no fechado. Fui libertado em agosto de 2015 e o desemprego continuou até minha cabeça ficar voltada para o mundo novamente. E quando eu achei que iria voltar para trás, o meu Deus criou um caminho.

Estava indo para uma entrevista de emprego e na estação de Carapicuíba, na grande São Paulo, tinha um folheto no quadro de avisos de onde oferecia emprego para ex-presidiários. Arranquei o papel e fui para o meu destino. Quando voltei, levei o papel para casa e me inscrevi no link do “Recomeçar”. Claro que depois colei o folheto novamente no quadro da estação.

Após o cadastro fui chamado para os três dias de curso na faculdade Anhanguera e na ocasião conheci o Léo (Leonardo Preciso, fundador do Recomeçar), ex-presidiário e egresso do sistema. E nesse tempo o meu relacionamento ia de mal a pior, pois eu e minha companheira Solange estávamos sobrevivendo de bicos. Ela, guerreira como é, me via como um “parado” no tempo, mas me incentivava em tudo. E foi ela o pivô de eu ter ido para a entrevista na Renova.

Depois de muito tempo de espera, me ligaram para uma entrevista. Já no outro dia me dirigi ao endereço que não conhecia. Lembro-me que naquele dia eu desci na estação Domingos de Moraes, debaixo de muita, muita chuva. Coloquei um chinelo e fui a pé.

Como o meu compromisso na Renova era às 13 horas, andei rápido e me dei conta de que havia passado direto do local. Todo molhado, já com o chinelo quebrando e soltando a correia, e com o horário avançado, eu desisti de ir. Liguei para minha esposa e ela me aconselhou a seguir mesmo molhado e atrasado, pois talvez me dariam a chance de realizar a entrevista. E então, eu fui até lá.

Cheguei e fui recepcionado pelo amigo e chefe Marcos Carvalho, que me acalmou, ofereceu-me um café e mandou eu me secar para depois fazer a entrevista que estava no fim. Participei daquela reunião e disse que não tinha mais nada a perder e que precisava daquela chance. Após o término, fui embora confiante, pois Deus estava no negócio.

Depois de algumas semanas me ligaram, era o “Marcão” Carvalho. Me lembro que fiz aquela entrevista com meu então líder em janeiro, Sergio Barros, Marcus Vinicius e o próprio Marcos Carvalho, que me falou como eram os benefícios e outras coisas. Eu fiquei super empolgado e me pediram para aguardar.

Foi aí que entrou a pandemia e por isso só depois de pouco mais de um ano me retornaram. Entrei pela agência e após três meses fui efetivado pela Porto Seguro Renova Ecopeças.

Comecei pela gestão de resíduos, tendo como líder Sergio Barros e Toni, os quais me ajudaram muito. Nessa época eu morava em um barraco e o telhado caiu. Meus chefes e líderes me ajudaram a colocar as novas telhas, paredes, pisos, janelas e inclusive um banheiro que nós não tínhamos.

Estando na Renova, fiz amigos, ganhei casa, fui promovido duas vezes e estou estudando no SENAI. Tudo isso com o apoio de Marcus, meu “líder imediato”, e claro, Marcos Carvalho e Daniel, o gestor da empresa.

Hoje eu trabalho no departamento de descontaminação, mas eu espero muito mais, porque as oportunidades são para todos sem exceção!

Obrigado!

Assista ao vídeo "Olhar Mais de Perto" que conta a história e o processo de contratação de Douglas Oliveira:

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